ART PRETAS

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terça-feira, 10 de maio de 2011

Óleo Sobre tela - Criança, só que em situação de rua.

"As Caridades odiosas"
Clarice Lispector

"(...) Foi em uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilidade? Eu passava pela rua depressa, emaranhada nos meus pensamentos, como às vezes acontece. Foi quando meu vestido me reteve: alguma coisa se encanchara na minha saia. Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e escura. Pertencia a um menino a que a sujeira e o sangue interno davam um tom quente de pele. O menino estava de pé no degrau da grande confeitaria. Seus olhos, mais do que suas palavras meio engolidas, informavam-me de sua paciente aflição. Paciente demais. Percebi vagamente um pedido, antes de compreender o seu sentido concreto. Um pouco aturdida eu o olhava, ainda em dúvida se fora a mão da criança o que me ceifara os pensamentos.-Um doce, moça, compre um doce pra mim.Acordei finalmente. O que estivera pensando antes de encontrar o menino? O fato é que o pedido deste pareceu cumular uma lacuna, dar uma resposta que podia servir para qualquer pergunta, assim como uma grande chuva pode matar a sede de quem queria uns goles de água.Sem olhar para os lados, por pudor talvez, sem querer espiar as mesas da confeitaria onde possivelmente algum conhecido tomava sorvete, entrei, fui ao balcão e disse com uma dureza que só Deus sabe explicar: um doce para o menino.De que tinha eu medo? Eu não olhava a criança, queria que a cena, humilhante para mim, terminasse logo. Perguntei-lhe: que doce você...Antes de terminar, o menino disse apontando depressa com o dedo: aquelezinho ali, com chocolate por cima. Por um instante perplexa, eu me recompus logo e ordenei, com aspereza, à caixeira que o servisse.-Que outro doce você quer? Perguntei ao menino escuro.Este, que mexendo as mãos e a boca ainda esperava com ansiedade pelo primeiro, interrompeu-se, olhou-me um instante e disse com delicadeza insuportável, mostrando os dentes: não precisa de outro não. Ele poupava a minha bondade.-Precisa sim, corte eu ofegante, empurrando-o para a frente. O menino hesitou e disse: aquele amarelo de ovo. Recebeu um doec em cada mão, levantando as duas acima da cabeça, com medo talvez de apertá-los. Mesmo os doces estavam tão acima do menino escuro. E foi sem olhar para mim que ele, mais do que foi embora, fugiu. A caixeirinha olhava tudo:-Afinal, uma alma caridosa apareceu. Esse menino estava nesta porta há mais de uma hora, puxando todas as pessoas que passavam, mas ninguém quis dar.Fui embora, com o rosto corado de vergonha. De verogonha mesmo? Era inútil querer voltar aos pensamentos anteriores. Eu estava cheia de um sentimento de amor, gratidão, revolta e vergonha. Mas, como se costuma dizer, o sol parecia brilhar com mais força. Eu tivera a oportunidade de... E para isso fora necessário um menino magro e escuro... E para isso fora necessário que outros não lhe tivessem dado um doce.E as pessoas que tomavam sorvete? Agora, o que eu queria saber com autocrueldade era o seguinte: temera que os outros me vissem ou que os outros não me vissem? O fato é que, quando atravessei a rua, o que teria sido piedade já se estrangulara sob outros sentimentos. E, agora sozinha, meus pensamentos voltaram lentamente a ser os anteriores, só que inúteis."

domingo, 1 de maio de 2011

Os cabelos crespos de nossas crianças

Cabelos de Luanda's











São crespos, não são ruins!










O couro capilar é sensível doe muito!










"E no dia em que ela foi à escola com os cabelos soltos, seus coleguinhas deram risada...
Pedimos explicações...

E a postura dos profissionais da área de educação?

A resposta foi mais traumática que o ato das crianças em si!

Não houve intervenção?

Houve sim, xingaram os coleguinhas que deram risada!

Xingaram? Como assim?

Pois é não discutiram absolutamente nada sobre a diversidade étnica!

Segue trechos da resposta d@s profissionais:

"Não deram risada da cor da pele da Luanda e sim do penteado, dos cabelos...

Voltamos pra casa, humilhad@s nos questionamos
O que fica subtentido? = os cabelos crespos... relativos a descendência, que por sinal é negra.

Nossa é verdade, foi isso mesmo!

- Ah! não admito!
- Mas "mãe" você nunca mandou ela com os cabelos assim!
- Assim como, gente?

Voltemos às reflexões...

Assim, soltos... querem dizer, muito crespos

E para a criança não voltar à escola com os cabelos "assim"...

Hoje foram oito horas de muita dor e muito trabalho!

As profissionais não entendem, são incapazes de fazer a leitura

Ou melhor, se negam a entender
Jamais vestirão a nossa pele".

Sendo assim, camuflam cada vez mais o racismo

Mas nós somos ousad@s questionamos:

Onde você "guarda seu racismo"?
Nos enojamos ao imaginar as próximas respostas!

"Dos olhos desta criança rescorrem lágrimas de dor,
do meu coração rescorrem gostículas de sangue
de uma ferida bem grande
de uma ferida incurável”

Lutamos tanto e ainda hoje não conseguimos acabar com uma das maiores desgraças do mundo - Preconceito, Discriminação e Racismo!

Desabafo de mulher; negra; mãe; mãe de uma criança que também é negra